Era uma tarde quente de verão, eu
e meu amigo decidimos ir ao rio para da um mergulho, foi uma pausa bem-vinda por
causa do calor sufocante. Embalamos o almoço, algumas bebidas e trouxemos a
minha câmera, no caso de eu ver algo interessante para fotografar para meu
projeto da faculdade. Nós montamos as barracas e fomos para o cais de bicicleta,
nadamos por algumas horas, e então fizemos o nosso caminho de volta pela rota
ciclovia que ficava ao lado do rio. Ao longo do caminho eu indiquei um edifício
de tijolo vermelho para o meu amigo, dizendo quantas vezes nós passamos por
aquele lugar, e nunca entramos. A curiosidade foi maior daquela vez e nós pulamos
a cerca de metal e arrombamos a porta.
Aquele lugar tinha uma estrutura
totalmente abalada, notava-se que estava á muito esquecida e que tinha visto
melhores dias, o telhado tinha parcialmente cedido e as ervas daninhas e
arbustos quase cobriam o teto inteiramente. O interior era sombrio, a luz que
penetrava, naquele fim de tarde, era amarelada e fazia o local parecer ter um
tom de sépia, as janelas de vidro estavam quebradas e o chão estava coberto de
garrafas de cerveja vazias, pontas de cigarro e ratos mortos. A parede do fundo
era imunda, e havia um colchão, o lugar inteiro fedia a urina velha e ratos
podres. Meu amigo estava muito nervoso queria sair dali de qualquer modo, mas
eu queria ver o que havia nos outros quartos. Explorando mais eu encontrei um
pequeno banheiro, o interior do vaso quebrado estava recheado com folhas e mofo,
na pia de plástico havia três pequenos esqueletos de aves mumificadas. Meu
amigo disse que não estava se sentindo bem e disse que esperaria por mim, lá
fora.
Ao lado do quarto com o colchão havia
outro espaço com uma mesa de madeira no centro. A luz aqui era muito fraca, pois
a janela havia sido bloqueada com caixas de papelão. Sobre a mesa, um pano
maltrapilho vermelho, e uma série de frascos e garrafas. Segurando um dos
recipientes contra a luz vejo dentro algo carnudo e flutuante. Todos os outros
jarros continham fragmentos de ossos, dentes, um foi estava preenchido com
cinzas. Eu não sei o que continha naquelas garrafas, mas todas elas tinham um
odor desagradável. Este lugar tanto fascinou e como me perturbou, eu não conseguia
parar de olhar. Tirei várias fotografias das garrafas e frascos e algumas das
aves mortas na pia.
Como eu estava prestes a sair
deste lugar o meu olhar foi atraído para uma caixa de lata pelo colchão. Dentro
deste havia fotografias antigas, de um menino em um balanço, uma noiva e um
noivo, um cachorro, uma velha em uma cama que estava dormindo ou morta. Houve
também um cavalo de brinquedo com as pernas quebradas, um relógio que já não
funcionava, os mostradores havia parado em um minuto passado 12, e envolto em
um lenço rosa foi um conjunto de dentaduras amareladas. Fiz questão de colocar
a caixa de volta exatamente onde eu encontrei, quando noto no colchão um detalhe
que eu não tinha visto antes, havia o contorno definido de um corpo estampado
nele da cor marrom, era nojento, parecia que alguém tinha se decomposto ali. Eu
tirei a última foto do colchão imundo antes de deixar o casebre sombrio. Meu
amigo estava esperando ansiosamente por mim lá fora, andando em volta da casa,
e dizendo o quanto o lugar era fantasmagórico.
Num dia que se seguiu, na
faculdade, eu estava no departamento de fotografia revelando minhas fotos
tiradas naquele fim e semana anterior. Eu coloquei todas as fotos para secar e analisei
cada uma para ver quais melhorias que poderiam ser feitas, como aplicar contraste,
quando vi algo que fez meu coração parar. Em uma foto que eu tirei das garrafas
e frascos, aparece uma figura escura pode ser claramente visto em pé no canto
escuro da sala. É uma sombra esgueirada de uma pessoa desdentada com olhos
furiosos, frios e mortos.
Imagens: Nuno On The Road /
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