terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Noite de Tempestade



Eu sou um homem solitário desde que minha querida mãe faleceu, eu a amava mais que tudo, mas ela se foi, e por isso eu moro aqui, nesse pulgueiro, um lugar que me deixa totalmente sem esperanças, mas nem sempre foi assim.

Quando eu tinha seis anos de idade eu era a criança mais feliz do mundo, pois eu tinha a melhor mãe do mundo, a casa em que eu moro hoje, antes era muito clara, limpa, e confortável, minha mãe dormia em um quarto ao lado do meu, e ao contrario das outras crianças eu gostava de noites de tempestade, pois eram as noites em que eu passava com ela, eu sempre adormecia enquanto ela cantava para mim.







Meu pai, sempre foi ausente, na verdade não me lembro muito bem dele, mas sei que ele esta por ai ainda vivo, infelizmente. Vivíamos nós três nessa casa enorme e amarela, mas eu sempre dizia aos meus colegas de escola que eu não tinha pai, e que éramos só eu e minha mãe, na verdade eu tinha vergonha dele. Eu não sou uma pessoa ruim, eu tenho meus motivos.

Meu pai sempre foi um caçador, ele viajava por semanas só para poder matar alguns animais, mas eu o odiava por trazer os animais para casa. Nos fundos de minha casa ainda existe uma cabana, em que ele degolava os animais, esse era o hobby dele, ele trazia os animais vivos para casa, os levava para os fundos da casa e com uma serra elétrica os degolava.

Ele gostava de colocar cabeças de animais empalhadas na sala de jantar.

Minha mãe também não gostava e por isso todas as vezes que ele chagava em casa bêbado arrastando um animal, eles brigavam, meu pai batia em minha mãe e o que me restava era ficar olhando ele á batendo pela fresta da cortina da cozinha.

Algo de que eu me arrependo até hoje, é de não ter o matado.


Em uma noite chuvosa, eu estava deitado ao lado de minha mãe, ela estava me contando sobre como fora a sua infância e de uma figueira que ficava na casa de meu avó, que ela adorava escalar...

E meu pai chegou batendo a porta do carro, ele estava nervoso e bêbado, eu pulei da cama para ver o que estava acontecendo lá fora, ele estava tentando tirar um veado da carroceria, o pobre animal estava amarrado e eu sabia o que aconteceria com ele. Eu me virei de volta para a cama, e abracei minha mãe que estava sentada, com um rosto apreensivo, ela estava cansada e eu  também.

Ela se levantou da cama calçou os chinelos, foi para a cozinha eu a segui, ela passou pela porta e bateu a porta de tela atras dela, mas como estava chovendo muito voltei para pegar minha capa de chuva no cabideiro. Quando voltei para a cozinha ouvi minha mãe gritando, ela havia pegado uma faca enorme na cozinha e acabara de enfia-la nas costas de meu pai, que estava prestes e degolar o veado, que se debatia na chuva tentando se soltar.

Foi tudo muito rápido, quando meu pai se virou com a serra elétrica nas mãos, minha mãe estava bem na frente e ele a acertou, a cortando ao meio, eu corri até os dois e segurei a cabeça de minha mãe que dava o seu ultimo suspiro de vida.

Eu olhei para ele com um ódio que eu nunca havia sentido na vida, seu rosto estava arrasado, ele sentia dor, com a faca enfiada nas costas, eu gritei “VÁ EMBORAAAA”. E ele saiu andando cambaleando em direção ao carro e foi embora.


Eu não sei ao certo se ele chegou vivo ao hospital ou se ele morreu, mas eu não me importo. Naquele dia de qualquer jeito ele morreu para mim.


Hoje eu também faço uma coleção...

Eu coleciono as duas partes do corpo de minha mãe enterrada no quintal.



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