Meu Amigo . . . Bicho Papão

Dia 1:

Chamei-me de paranoica por algum tempo, por causa de pequenas coisas que me colocam em meu limite. Eu não posso ficar no escuro. Mesmo quando meus olhos se concentram em alguma distração, eu posso sentir o olhar de alguma criatura da noite me seguindo como se estivesse nas pontas dos pés para ficar verificando minha vida patética. Eu posso sentir algo, algo escondido no escuro, que deve estar lá desde sempre. Eu não suporto o silêncio também. Você acha que não falo sério?, pelo menos no silêncio, posso ouvir se algo está por vir. Não alguém, alguma coisa. Mas isso não é tudo, eu posso sentir meus músculos se enrijecerem e a tensão quando fico em silêncio, e ouço algo estranho. Como se o silêncio é apenas existisse para dar ênfase aos sons. Como se fosse algo convidativo. Algo para demonstrar a tensão no ar. Eu durmo com a televisão ligada. Ela resolve as duas fontes dessa paranoia instintiva. Mas agora eu não acho que é tudo paranoia.

Ultimamente tenho ouvido barulhos ao redor da casa, e às vezes quando eu olho em volta vejo coisas derrubadas, ou faltando, ou apenas movimentadas do lugar. Uma ou duas vezes eu ouvi algo se movendo atrás de mim, um pouco antes de eu virar para encontrar o nada. Tenho tido pesadelos. Nos pesadelos vejo uma criatura que eu nunca vi nem mesmo nas lendas mais obscuras do folclore. Diga-me se eu não deveria ter medo?.

Dia 5:

Esta manhã, quando acordei e estava com os olhos embaçados, mas eu vi alguma coisa. Foi como aquela criatura dos meus pesadelos. Eu disse a mim mesmo que eu ainda estava sonhando ... mas eu não tenho certeza disso.

Acho que me tocou.

Eu acho que tinha garras.

Dia 6:

Eu vi-a novamente, e desta vez eu não podia negar que eu estava acordada. Eu fui pegar uma bebida e ela estava no corredor, fora do alcance da luz do meu quarto. Ela era pálida, muito pálida, era quase branca, apesar da sua pele com aparência humana e seus olhos eram surpreendentemente grandes e pretos, ligeiramente refletindo a luz. Sua pele pálida era bem apertada em toda a sua estrutura óssea e suas veias eram visíveis, como se a pele fosse muito fina. Tinha garras enormes. Isso me assustou, saber que tinha sido tocada por elas, eram como navalhas e as três maiores eram de um palmo de comprimento. Elas eram da mesma cor que as minhas.

Tudo isto parecia como uma fotografia capturada num segundo, ela olhou para mim com aqueles olhos enormes, como se estivesse surpresa por ser notada, antes que ela se lançar no escuro da sala ela parou no fim do corredor.

Eu não fui até a cozinha beber nada.

Dia 7:

Eu acho que aquilo deixou a casa, mas eu não dormi com medo de acordar e sentir suas garras me tocando novamente. Eu não consigo parar de pensar nelas, as garras. Elas pareciam que eram feitas do mesmo material que as minhas próprias, então como é que elas pareciam tão mais grossas?

Dia 8:

Eu estava errada. Quando acordei, ela estava me observando dormir, desajeitadamente sentado no canto diagonal de mim. Não, eu não acordei. Ela me acordou. Ouvi sua respiração. Era um som de chocalho como um animal doente, sem timbre, sem emoção, plano. Eu vi tudo isso. Suas pernas traseiras eram muito mais curtas do que as patas dianteiras, e eu lembro do meu primeiro pensamento foi "como é que pode andar sobre quatro patas se elas são incompatíveis?". Eu podia ver suas costelas, eram tão ósseas. Sem nenhum tônus ​​muscular. Ela não tem características de qualquer gênero, eu poderia dizer como ela se agachou, ou sentou, ou seja o que estava fazendo com as suas pernas traseiras curtas. Tinha garras em seus pés, o mesmo que suas mãos. Três dedos dos pés e uma garra curta. Percebi seu rosto é muito longo, e é careca ... e tem um nariz como um esqueleto. Deixou-me olhar para ela. Eu acho que gostava quando eu olhava para ela, em sua forma terrivelmente pálida. Ela me deixou terminar e olhou para mim como se estivesse fazendo a mesma coisa, como ele estivesse tomando cada detalhe. Nós terminamos, ao mesmo tempo ela sorriu antes de ela se afastar do quatro, lentamente, como se fosse me deixar ver como andava. Como sabia que eu estava curiosa. Ela olhou para mim o tempo todo. Ela não pestanejou.

Eu não acho que ela possa.

Dia 9:

Foi na esquina novamente esta manhã. Ela não se mexeu quando eu a vi, apesar de eu não querer observá-la novamente. Ela me encarou por mais de uma hora, eu não percebi que estava esperando eu me levantar. Eu não queria levantar. Puxei o cobertor mais para cima de mim, mas eu não acho que ela gostou disso. Pegou um de meus antebraços e com uma garra, puxou um pedaço de minha pele e rasgou-a, atirando para longe de mim, meu braço voltou ao normal, com um movimento de seu pulso. Eu não sei como ela fez isso, não tinha músculos, mas era tão forte a velocidade que me puxou da cama e depois me jogou nela novamente. Ela ficou me olhando. Ela ficou me olhando, até que finalmente mudou de posição, para a beira da cama. Não houve nenhuma reação, mas de alguma forma eu senti quando ela se iluminou. Quando eu finalmente consegui ficar em pé, com as pernas tremendo, ela olhava para mim. Ele me olhou dos pés à cabeça. Em seguida, ela sorriu e saiu pela porta.

Acho que queria ver como eu parecia parada.

Ele queria ver tudo de mim.

Eu não gosto de como ela me olhou.

Dia 10:

Eu acho que ela gosta quando eu canto. Foi lá novamente esta manhã. Desta vez eu não senti tanto medo de ficar peto dela, pensando no que iria fazê-la sair, mas isso não aconteceu. Ela ficou me olhando, como se esperasse que eu fizesse alguma coisa. Olhamos uma para a outra por um longo tempo, antes que eu notasse acho que ela ficou impaciente. Veio em minha direção e me mudei de posição na cama, por puro instinto.

Em vez de perseguir-me, parecia satisfeita. Mas eu estava em seu caminho. Eu estava congelada de medo em frente à porta, que foi para onde fui ao sair da minha cama, ela veio novamente em minha direção, passou por mim, era capaz de fazê-lo, no espaço entre mim e o batente da porta, notei suas pernas traseiras mais largas. Ela esbarrou em mim, e me empurrou para o lado com uma força inesperada.

Sua pele é lisa e levemente pegajosa.

Dia 11:

Ela não estava lá hoje, um conforto simples. No entanto, enquanto eu me vestia eu peguei ela me espionando. Eu congelei com um braço para fora da blusa e com a minha calça colocada pela metade. Ela não tirava os olhos. Tentei ignorá-la e terminei de me vestir, e quando olhei para trás para a porta, preocupada, ela já tinha ido.

Eu sinto que ela tem algum tipo de plano.

O fato de ela ser inteligente o suficiente para fazer planos, me deixa nervosa.

Dia 12:

Não foi pelo canto do olho que a encontrei, me vesti lentamente para ficar de olho nela. Infelizmente, eu a encontrei na cozinha esperando ansiosamente, como um animal de estimação. Eu fugi para o meu quarto e ela me seguiu, não, me perseguiu, e de repente estava na minha frente, bloqueando o meu caminho e me olhando com seus olhos grandes, que não demonstravam nenhuma emoção, mas eu sabia que estava com raiva. Fui para a cozinha e coloquei um bife cru em um prato. Ele jogou-o na parede, a carne bateu, fazendo um paf, o azulejo quebrou, e eu a olhei, já que continuou a olhar para mim, ainda que agora parecia desapontada comigo por não saber o que ela desejava. Agora hesitante, eu peguei o suco de laranja e derramei em um copo, mas quando eu cheguei mais perto dela, para oferecê-lo, ele fez um barulho baixo, um que eu nunca tinha ouvido, e embora não tivesse nenhum sinal, de alguma maneira eu percebi que era do sexo feminino. Ela olhou para mim com o copo, até que  finalmente tomou um gole tímido, e ela sentou-se ali como se sentisse prazer. Fiz torradas e ovos. Ela não quis nada disso, só me olhou comer. Depois que eu terminei, ela se levantou e saiu

Eu me pergunto se ela está tentando me engordar.

Dia 13:

Ela está ficando cada vez mais presente na minha vida. Hoje eu não a vi até depois do almoço. Eu estava indo ao banheiro e ela estava de repente nos meus calcanhares, uma de suas garras estava faltando, ela estava em meus tornozelos como que se tivesse se arrastado atrás de mim. Andei em um ritmo constante até que estava á um passo da porta do banheiro, eu entrei em um pulo e tranquei a porta. Sorri de alivio, eu me sentei no vaso sanitário, e houvi um estrondo e todas as seis garras grandes, abriram um rombo na porta, ela entrou e me olhou. Ela sentou-se lá com um sorriso, como se estivesse triunfante.

Dia 14:

Ela me seguiu hoje. Eu completei minha rotina de casa, sem qualquer sinal dela, eu estava alegre ao longo do meu caminho para a escola, até que eu a ouvi. Sua respiração. Eu não sei como, mas eu ouvi. Olhei em volta, assustada e vi seus olhos negros me observando das sombras, e quando parei, ela fez que o ruído baixo de desaprovação. Eu não sei como, mas meus pés começaram a se mover por vontade própria em direção á escola.

Ela tem me treinado.

Ela me observava das sombras, e pôde me encontrar, e eu acho que ela estava lá na sala de aula.

Dia 15:

Estou começando a entender como ela funciona. Fiquei de olho ela todos os dias, até na escola , mas não havia sinal dela. Quando cheguei em casa, como esperado, ela estava esperando por mim. Ela parecia feliz, ela esperou apenas com a expectativa de eu continuar minha rotina, a próxima tarefa: lição de casa. Ela se sentou ao meu lado e ficou me olhando. Eu quase me senti confortado quando eu entendi o que ela queria agora. Eu não tenho certeza se eu gosto de estar confortável.

Dia 19:

Eu estava certo, ela me seguiu durante todo o resto da minha rotina diária, um passo de cada vez eu fui para a cama. Eu comecei a me perguntar o que ela faz quando não está me observando. Acho que ela está me estudando. Eu me pergunto se ela está de alguma forma planejando. Sei que esse pensamento significa que eu acredito que ela está reunindo informações sobre mim para as outras criaturas. Eu dormi inquieto.

Dia 20:

Ela se foi. Eu não a vi, mesmo depois que eu fui para a cama. Eu não gosto disso, estou preocupado.

Dia 23:

Ainda nenhum sinal dela. Somente estas lembranças e um buraco na minha porta do banheiro me convencer que ela era realmente real. Ou eu estou ficando louco. Neste ponto, acho que estou mesmo ficando louco.

Dia 24:

Chamei alguém para consertar a porta. Eu não sei por que eu ainda não tinha o feito, deveria  ter feito isso de qualquer maneira. Ou mesmo depois de ter terminado a meu ritual limpeza. Eles disseram que vão demorar três dias.

Dia 25:

O homem fez um monte de perguntas sobre o buraco na porta, dizendo que parecia que alguém havia usado uma machadinha nela. Ele perguntou por que o buraco era tão baixo, e um tamanho tão estranho. Eu menti e dei um olhar estranho. Eu disse a verdade e ele me deu um estranho hummm. Quando eu insistia que era a verdade, ele me ameaçou. Vou receber alguém novo para consertar a porta.

Dia 26:

Eu ainda estou tremendo. Ela está de volta, mas algo está diferente nela ela. Eu acordei e encontrei sua boca na minha cabeça, um feito assustador, e eu vi todos os dentes afiados que vão desde a entrada até a garganta. Meu primeiro pensamento foi “ela veio me matar”. Meu segundo pensamento foi “sou seu alimento”. Meu terceiro pensamento foi como aqueles dentes funcionavam em sua garganta. Ela encaixou a boca sobre mim suavemente, e um dente cortou meu nariz. Ele mal me tocou, mas foi um corte horrível, e sangrou constantemente. Ela lambeu-o, e sua língua parecia a de um gato. O corte cicatrizou com sua saliva. Mas ainda dói. Ela parecia satisfeita com a minha aparência assustada e me deixou abruptamente.

Naquela noite eu vi as notícias.

O homem que veio á minha casa para consertar minha porta foi encontrado morto no seu apartamento, suspeitavam ter sido á machadadas.

Era um aviso.

Dia 27:

Eu acordei com ela novamente, desta vez em cima de mim. Ela é leve, mas seus ossos estavam cravados em mim para me despertar. Ela me olhou com um sorriso, como eu tremia, ela me mostrou os dentes novamente. Eu consegui choramingar e ela retirou-se de cima de mim, e foi  para seu canto escuro.

Dia 31:

Ela não me deixa em paz agora. Eu soube que ela não dorme. Eu sinto os olhos em mim onde quer que eu vá.

Dia 33:

Eu achei um gato na rua e o levei enquanto eu ia para escola, e depois eu o levei para casa ontem. Hoje, eu o achei estraçalhado na minha mesa da cozinha. Ela sorriu quando eu vomitei.

Dia 34:

Ela ficou desaparecida por um tempo hoje, e notei a porta do armário aberta. Eu me senti obrigado a olhar lá dentro, também depois do gato, e percebi que é onde ela está morando. Há um forte cheiro de morte lá dentro. Estou ficando cada vez mais assustada.

Dia 37:

Pela primeira vez em muito tempo, ela se foi. Eu passei um tempo com os amigos. Eu me diverti muito. Eu beijei o meu namorado e o abracei, mas não disse á ele o porquê de não estarmos passando tempo juntos.

Dia 38:

Ela cortou o próprio braço. Ele estava na minha cama, posicionado como se estivesse me acariciando.

Eu fiquei em casa.

Dia 44:

Saí de casa pela primeira vez em dias para vê-lo, o senhor que concertou a porta. Ele estava fora do hospital. Ele não falava com ninguém. Suas primeiras palavras em dias foram, Ele disse "ela é minha propriedade", antes que de desmaiar.

Dia 47:

Ela se tornou mais gorda. Ela vazava um líquido, com mau cheiro de carne podre. Eu não tenho certeza do que ela está se alimentando.

Dia 50:

Ela falou comigo. Ela disse que eu não posso mais sair.

Dia 54:

Eu fiquei sem comida. Ela viu que eu não comia e trouxe-me alguma coisa. Era o cão do meu amigo.

Dia 63:

Eu tentei ir buscar comida e ela me atacou. Eu tinha três marcas de perfuração na perna de onde ela me puxou para dentro. Eu comi o cão.

Dia 68:

Eu choro muito. Eu não posso fazer-me sair da cama. As marcas de perfuração estão inflamadas.

Dia 69:

Saí da cama para limpar o pus das bolhas sangrentas em minha perna. Eu vou viver. Eu queria poder limpar e colocar remédio, mas ela me olha o tempo todo.

Dia 71:

Eu li um livro e ri. Ela ficou mais calma.

Dia 72:

Eu sorri. Ela parecia chateada. Demorou um tempo para perceber o cheiro dela não era mais podre, algo estava faltando.

Dia 77:

Eu sei como matá-la.

Dia 84:

Eu estou finalmente livre. Após a preparação de uma semana eu consegui aproximar-se dela enquanto ela estava se movendo para a próxima sala e a abracei, sua pele lisa e gordurosa, o  líquido de cheiro horrível. Ela gritou e tentou atacar, mas eu estava em suas costas, segurando firme e me recusava a ceder ao medo e dar-lhe força. Ela correu e eu quase cai com sua velocidade, o cheiro começou a deixar-me tonta, mas eu engoli a bile subindo na minha garganta e beijei sua cabeça careca, sentir as veias pulsando loucamente. Ela cedeu com um ruído borbulhante. Quando desci de suas costas, e observei o seu rosto os olhos eram brancos, e ela não se mexia. Ela estava finalmente morta.

Dia 85:

O corpo tinha desaparecido. Eu acho que eu não me importo de para onde ele foi.

Dia 87:

Eu acordei com aquelas garras tocando-me e imediatamente me encolhi debaixo do cobertor. A voz riu. Era do sexo masculino.

"Nós já sabemos sobre você. Isso não vai funcionar duas vezes".

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Meu Humano de estimação 

Dia 1:

Mandaram-me para a minha primeira casa. A fonte de alimento é uma jovem.

Encolheu-se quando as minhas garras tocaram em suas costas de manhã. Foi maravilhoso.

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