domingo, 14 de dezembro de 2014

Meu Pequeno Pé de Laranjeira


 (Reescrito e Arrumado, porque estava muito ruim antes)



Como posso descrever a historia de algo como uma árvore?

Uma linda história na verdade, de como a vida é importante. Eu era um garoto sozinho e franzino quando meu avô, chegou em casa com uma muda de laranjeira, e ele apenas fez isso pois meu pai disse que eu não poderia ter um cachorrinho, porque era muito pequeno e nem responsável pra isso. 



No entanto uma arvore não seria algo tão difícil de cuidar, eu deveria apenas regar, ajudar seus galhos a manterem-se para cima e dar amor. No meu 16º aniversário, eu tinha uma namorada, e ela era linda, sempre namorávamos encostados a minha laranjeira e até mesmo gravamos nossas iniciais nela. Mas as vezes a natureza tem formas estranhas de demonstrar que se importa com você. 

Naquela época a noite, ventava e chovia muito, e os longos galhos sempre batiam na minha janela, e o vento zumbia através das folhas, era como se ele tentasse falar comigo. Eu então decidi que colocaria uma tela na minha janela, e que deixaria que os galhos crescessem para dentro do meu quarto. 


Eu nunca estava sozinho, sempre tinha minha arvore amiga, minha confidente, que guardava todos os meus segredos. Até mesmo quando eu perdi minha virgindade ela estava lá, segurando nossas roupas como se fosse um cabideiro, e ao mesmo tempo nós olhando. Mas minha namorada não gostava muito dessa minha obsessão, dizia que eu era um hippie, e que tratava a arvore como alguém da família, como alguém que fosse mais especial para mim do que ela era. 


Então para provar que eu a amava, cortei o galho que havia crescido dentro do meu quarto. Mas isso me machucou, não só por ter um valor sentimental, mas no momento em que serrei aquele galho, algo se rompeu dentro de mim, como um órgão ou uma veia. Eu caiu estrebuchando, e minha namorada saiu correndo para chamar meus pais. 


Médico disse que havia sido uma hemorragia interna, e que não encontrará a causa. 


Mas eu sabia, pois sempre soube que minha laranjeira era especial, eu a alimentei com meu sangue e suor desde que eu era aquele garoto franzino e sem amigos. Eu sempre abria seus galhos e colocava sangue que saia de um pequeno corte que eu fazia no meu dedo eu molhava sua seiva, e assim ela cresceu cada vez mais forte. E eu também, o curioso é que ela nunca tinha dado nenhuma laranja, isso aconteceu apenas depois do meu episódio hospitalar. 



Eu voltei para casa e vi no alto de um dos galhos centrais um pequeno botão vermelho como sangue, era a primeira laranja da minha grande amiga arvore, Todos os dias eu a olhava crescer da janela do meu quarto, era uma laranja robusta e vermelha, talvez causado por alguma anomalia com a junção do meu sangue. 


Mas não parecia algo comum e eu deveria ter notado que aquilo não fazia parte da arvore e sim de mim, aquela arvore simbolizava parte do que eu doei a ela, talvez fosse meu coração, ou outra coisa. 

Depois de alguns dias ela começou a amadurecer, e então caiu. Eu a deixei na grama descansando para que ela sentisse a brisa, a chuva e que aguardasse para quando minha namorada viesse eu a daria de presente. Quando ela chegou á minha casa eu ainda me sentia doente, eu disse a ela: 



- Jennifer aquela laranja, a única laranja que já cresceu da minha arvore e simboliza meu coração,  eu quero dá-la a você, gostaria que a devorasse e assim eu seria para sempre seu.


Pensando hoje isso foi algo meio mórbido de se falar romanticamente, mas eu me senti o cara mais romântico do mundo, e ela sentiu que eu realmente a amava muito, muito mais ela do que a laranjeira. Ela me olhou nos olhos e deu uma primeira e única mordida. 
Pensei que morreria como em romeu e Julieta, com o amor da minha vida, devorando meu coração. Mas eu nada senti. E ela apenas disse que era muito doce e que levaria o restante para casa para mostrar aos seus pais.


Dias se passaram e nenhuma notícia de minha amada, e também nenhum movimento estranho ou farfalhar de minha laranjeira. Até que recebia a ligação da mãe da Jennifer. 


- Olá, Diego? oi eu tenho algo muito ruim para lhe contar, a Jennifer não vinha passando muito bem esses dias, e eu não deixei que ela saísse de casa. Ela vinha vomitando sangue por um tempo, e passando muito mal, até que em um raio x viram que algo crescia dentro dela, e estava perfurando seus órgãos. Eu sei que é chocante para você ouvir isso tão abruptamente. Mas ela morreu. Eu não queria faze-lo piorar saindo de casa, mas estou ligando para avisar que o enterro dela será hoje à tarde... Diego...Diego você está ai? - Ela falou com uma voz rouca de quem segurava o choro.

Eu fiquei mudo por alguns minutos antes de responder, fui caminhando lentamente até a minha janela, e respondi olhando para a arvore.

-Sim senhora eu apenas estou chocado, eu não sei como isso pode ter acontecido assim de repente.... Não sei como posso ajudar.... 

-Tudo bem não foi culpa sua, espero que esteja melhor, e que compareça. Jennifer amava muito você, espero que lembre se disso. 



Ela desligou o telefone, e eu percebi que a arvore que antes era tão pequena agora era grande e torcida, E eu posso jurar que seus galhos formavam um sorriso. Mas eu sei que ela morreu depois de comer a laranja, e sei agora que não era meu coração... Eu ainda estava na janela, e o vento estava forte o bastante, trouxe um galho até minha janela, ele bateu direto no meu peito fazendo um pequeno arranhão na minha camisa...

Aquela arvore me salvou, aquela laranja não era meu coração. Aquela laranja era um tumor venenoso que crescia dentro de mim...E eu o ofereci para Jennifer comer. 



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