quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O que você vê?






Abra os olhos...
Estou acordada, mas por que não abro os olhos?!

Eu não posso. Eu levanto uma mão e levo-a até meus olhos e encontro... Buracos cheios de cicatrizes. Eu não tenho olhos... Tento chorar, mas meus dutos lacrimais não funcionam.

Talvez eu seja uma daquelas super pessoas que têm sentidos aguçados. Isso acontece quando um dos sentidos esta inativo, certo? Eu pratico, ouço tudo quanto eu acho possível.





Então eu ouço:
"Ela está acordada agora. Você pode vê-la se quiser". Então eu ouvi alguém passando pela porta. Talvez esse fosse o primeiro passo! Eu posso ouvir através das paredes.

"Querida?". Eu ouço.

"Mamãe?"

"Sim. Olá Melissa. Você está bem? O médico disse que... disse que não havia nada que pudessem fazer para salvar os seus olhos. Eu sinto muito". Eu podia ouvir que ela estava chorando, mesmo que ela não estivesse fazendo barulho.

"Você se lembra de como ele era?" Ela pergunta.

"Quem?" Eu digo. O que ela poderia dizer? Ela simplesmente calou-se e corre para fora da sala, batendo a porta atrás de si. Eu á ouvi, ela gritava com a enfermeira.

"Você não disse que ela não iria se lembrar! Ela não se lembra do desgraçado!"

Eu podia ouvir o balbuciar enfermeira. Eu acho que minha audição realmente melhorou!

O que ela quer dizer? Com “ela não se lembra", eu me lembro muito bem as coisas. Eu sinto os meus arredores. Eu acho que estou em um hospital. Isso faz sentido, já que parece que meus olhos não querem se abrir. Eu me pergunto por que ...

Eu acho que vou ter que tentar lembrar. Talvez eu estivesse inconsciente quando aconteceu.

Eu sempre imaginei como é ficar cega como é ver apenas o preto. Mas não há nem mesmo preto para ver. Há apenas nada. Um nada inimaginável. Apenas nada.
...

Em casa agora eu tropeço lentamente nas escadas. Era algo que eu fazia automaticamente com vista, subir as escadas. Mesmo que eu não esteja realmente vendo as escadas. Eu a conheço bem.

Acho que vi algo. Como quando você olha para algo brilhante e a imagem fica gravada em sua retina. Eu não sei se ainda tenho retinas... É a imagem de um homem. Ele está carregando algo... Uma faca? Ele está se aproximando. Ele esta muito perto de mim... Ele está me agarrando!!!. O desgraçado está me agarrando! Ele levanta a faca na direção de meu rosto... E eu volto a ver nada. Era apenas um pesadelo.

Eu iria para a terapia, nas próximas semanas falar sobre minha perda de visão. Mas eu acabava contando sobre as imagens que via quando dormia.

Eu sonhava todos os dias que um homem com uma faca me agarrava e se preparava para me matar.
Ele começava cada vez mais ficar em foco. Ontem vi uma forma, hoje com detalhes morados, uma camiseta, jeans, sujeira em suas mãos. No dia seguinte, não havia sujeira, mas sim sangue. Ele tem sangue em suas mãos. E na faca. E em seu rosto. Ele agarra-me e eu olho para o rosto dele. Ele pega sua faca, e desta vez ele me acerta... Eu desmaio.

Eu sinto uma dor em meus olhos, ou pelo menos onde eles ficavam. Eu acordo. Sento-me na cama, um pano amarrado em volta da minha cabeça para esconder minhas cicatrizes faciais e buracos. Eu ouvi um barulho lá embaixo, uma batida, em seguida, uma explosão silenciosa como se a porta fosse arrombada. Eu puxar o cobertor para acima de minha cabeça. Eu ouço minha mãe gritando lá em baixo. Então, meu pai desce as escadas correndo.

E então... Apenas silêncio.

Eu ouço passos á caminho da minha porta. "Papai?" Eu pergunto sutilmente. "Sim... Vá dormir Mel”. Essa não é a voz do meu pai!!

"O que você quer?" eu pergunto gaguejando e chorando.

"Vim para terminar meu trabalho" o estranho diz.

Então eu sinto uma dor aguda no em meu intestino, como se uma faca de estivesse sendo empurrada dentro de meu estômago. E a dor se espalha.

Ele sussurra em meus ouvidos palavras estranhas, parecia latim ou um tipo de feitiço, e então diz: 
“Eu poderia fazer o que eu quisesse com você... mas farei apenas meu trabalho”.

Então eu sinto o metal frio contra minhas órbitas vazias.

Agora eu posso ver apenas o que os mortos podem ver...


O nada.


2 comentários:

  1. Sinistra! Boa, poderia ser melhor explorada em alguns aspectos, apesar de agora eu não saber dizer quais, ainda sim, muito boa creepy.

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  2. Muito boa, teve até partes que fechei meus olhos para sentir melhor a Creepy kkkk.
    Tá de parabéns

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