quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Carta para Samuel




Sobre a calçada úmida, em cima de uma ponte, um pedaço de papel não mais tão branco reluz sobre a luz florescente. O vento por pouco não levou  o que seria a ordem para o ultimo suspiro de um pobre homem que mal sabia, mas teria hoje sua vida coberta de significado.

Samuel passava pela ponte, no momento exato que uma folha de papel ameaçava voar para o viaduto, a folha de papel indiferente, rodopiou ao vento, dobrou e desdobrou. Até que ficou presa no tornozelo peludo do jovem Samuel. Ele podia apenas á ter afastado, podia ter  amassado e jogado para trás, sobre o ombro, mas ele a pegou.




Podia ser obra do destino mas não era, a folha foi aberta, lida e entendida, podia haver alguma parte de Samuel que relutasse em não obedecer a ordem que fora lhe imposta diante daquele papel.

No meio da folha em letras garrafais estava escrito apenas:
"PULE DA PONTE SAMUEL".

Era simples, podia ter sido escrito por qualquer um, podia ser uma triste coincidência, mas era uma carta escrita expressamente pela morte, para aquele infeliz. Mas ao contrario do que se pensa, a morte sabia muito bem o que estava fazendo, e ela só estava dando continuidade ao que Samuel não teve coragem de fazer.

Naquela manha ele acordou ao lado da mulher que amava, a beijou e fez amor com ela, mas houve algum momento, um lampejo em sua mente que fez com que ele quisesse ficar com ela para sempre. Então ele se sentou sobre seu estomago, pegou um travesseiro que estava ao seu lado, e colocou sobre o delicado rosto da pobre moça, e a sufocou até que não sentisse mais as mãos dela arranhando seu rosto.

Agora era sua vez, ele pensou em mil formas de se auto executar; se enforcar, atirar em sua cabeça, se jogar da janela do 8º andar de seu apartamento, provocar o pitbull do vizinho, se jogar em frente a um ônibus. Mas ele não se decidiu, então levou seu dia normalmente, mesmo considerando o corpo gelado de sua namorada deixado em casa, deitado na cama. Ele foi ao trabalho, foi á casa de sua mãe, e na volta passou por esta... esta ponte que ele não tinha notado ser uma possibilidade. Talvez porque ele não a tivesse antes.

Por isso a folha de papel não tão branca, lhe caia tão bem. Samuel já estava com os pés á beira do muro que cobria a grade vermelha da ponte, quando ele olhou novamente para afolha...

"PULE DA PONTE SAMUEL..."




2 comentários:

  1. Eu não imaginava que ele mataria ela,até reli a frase pra entender melhor...
    Histórias que envolvem suicidios me atraem ^.^

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